Pular para o conteúdo principal

Is Central Bank independence being threatened? (EN-US & PT-BR)



MARCOS REVEJES PEDROSO

Texto escrito em 30/04/2020 para uma das atividades de escrita de inglês, como um resumo do meu projeto de Iniciação Científica entregue ao CNPq com o tema "Banco Central Independente: um estudo do impacto da formalização da autonomia da entidade monetária nas taxas de juros de longo prazo”. 

Nowadays, Central Bank Independence is appearing again in the economic and juridic debate. In the last years, monetary entities have suffered political pressure in countries like Turkey, India, Pakistan, Russia, Nigeria, South Africa, and Thailand. Even the president of the United States of America, Donald Trump has criticized the Federal Reserve for the increase in interest rates. This context disrupts the White House’s twenty-year tradition of avoiding commentaries about monetary policy, concerning central bank independence.

In Brazil, the debate surges up again in Bolsonaro’s government, when two law projects were presented to the Parliament, one made by Executive Power (“Projeto de Lei Complementar - PLC 112/2019”) and the other by the Senate (“Projeto de Lei Complementar – PLP 19/2019”). The main goal of both projects is decrease instability in political transition moments, seeing that mandates of Central Bank directors do not coincide with the President of the Republic. That is the way of isolating the autarchy from political pressures, especially about money, credit, and interest. According to LIMA(2020), there is a dispute for protagonism between the Chamber of Deputies and the Senate to approve Central Bank Independence. Despite the conflict of interests between the Houses, the Central Bank of Brazil does not support the Senate proposal and, even though respecting Parliament’s autonomy and independence pursues the approval of PLP 112/2019.

The theory of Central Bank Independence is based on two pillars. First, the acceptance of the existence of an inflationary bias in the conduction of monetary policy. Second, the empirical evidence regarding the negative correlation between the degree of central bank independence and inflation, notably in developed countries. However, economists, like Friedman, propose that monetary policy is an instrument too powerful to be concentrated in the hands of a central banker.  Other point of view postulates that inflation is not a problem of such seriousness to justify a threat to democracy, defending that Central bank Independence could create a fourth democratic power.

Finally, according to research from the English consultancy Capital Economics, if the process of Independence of Central Bank of Brazil got approved, there would not be such a significant macroeconomic impact in the short-run. On the other hand, in the long-run, this approval will help to maintain low inflation expectations. This way, the uncertainty about interest rates will be reduced, allowing commercial banks to decrease the spread of their operations, having a real influence on access to credit to the Brazilian people.

 

Versão em PT-BR 


A independência do Banco Central está sendo ameaçada?

Em âmbito atual, a Independência do Banco Central está voltando a aparecer no debate econômico e jurídico. Nos últimos anos, entidades monetárias sofreram pressões políticas em países como Turquia, Índia, Paquistão, Rússia, Nigéria, África do Sul e Tailândia. Até o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, criticou o Federal Reserve pelo aumento das taxas de juros. Este contexto quebra a tradição de vinte anos da Casa Branca em evitar comentários sobre a política monetária, no que diz respeito à Independência do Banco Central.

No Brasil, o debate ressurge novamente no governo Bolsonaro, quando dois projetos de lei foram apresentados ao Parlamento, um do Poder Executivo (“Projeto de Lei Complementar - PLC 112/2019”) e outro do Senado (“Projeto de Lei Complementar - PLP 19/2019 ”). O principal objetivo de ambos os projetos é diminuir a instabilidade em momentos de transição política, uma vez que os mandatos dos dirigentes do Banco Central não coincidem com os do Presidente da República. É assim que isolamos a autarquia das pressões políticas, principalmente em relação a moeda, crédito e juros. Segundo LIMA (2020), há disputa de protagonismo entre Câmara dos Deputados e Senado para aprovar a Independência do Banco Central. Apesar do conflito de interesses entre as Casas, o Banco Central do Brasil não apóia a proposta do Senado e, mesmo respeitando a autonomia do Parlamento e a Independência, busca a aprovação do PLP 112/2019.

A teoria da Independência do Banco Central basea-se em dois pilares. Primeiro, a aceitação da existência de um viés inflacionário na condução da política monetária. Em segundo lugar, as evidências empíricas sobre a correlação negativa entre o grau de independência do banco central e a inflação, principalmente nos países desenvolvidos. No entanto, economistas, como Friedman, propõem que a política monetária é um instrumento poderoso demais para concentrar-se apenas nas mãos do presidente do banco central. Outro ponto de vista postula que a inflação não é um problema de tamanha gravidade para justificar uma ameaça à democracia, defendendo que a independência do Banco Central poderia criar uma quarta potência democrática.

Por fim, segundo pesquisa da consultoria inglesa Capital Economics, caso fosse aprovado o processo de Independência do Banco Central do Brasil, não haveria impacto macroeconômico tão significativo no curto prazo. Por outro lado, no longo prazo, essa aprovação ajudará a manter as expectativas de inflação baixas. Dessa forma, a incerteza sobre as taxas de juros será reduzida, permitindo que os bancos comerciais diminuam o spread de suas operações, tendo uma influência real no acesso ao crédito do povo brasileiro.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALESINA, Alberto; SUMMERS, Lawrence H. Central bank independence and macroeconomic performance: some comparative evidence. Journal of Money, Credit, and Banking, v. 25, n. 2, p. 151-162, 1993.

BLINDER, Alan S. Central banking in theory and practice. MIT Press, 1998. BLINDER, Alan S. “Central bank credibility: why do we care? How do we build it?”. Working Paper, n. 7161, National Bureau Economic Research, 1999.

CAPITAL ECONOMICS. Brazil: the implications of central bank independence. Disponível em: < www.capitaleconomics.com/publications/latin-america-economics/ latin-america-update/brazil-the-implications-of-central-bank-independence/> Acesso em 27 mar. 2020

DAVIES, Howard. “Are Independent Central Banks Passé?”, Project Syndicate, 26/02/2020.

DINCER, N. Nergiz; EICHENGREEN, Barry. Central bank transparency and independence: updates and new measures. International Journal of Central Banking, 2013.

LIMA, Vandson et al. “Autonomia do BC opõe Câmara e Senado”. Valor Econômico, 19/02/2020.

MATHEW, Jiji T. Measuring central bank independence in twenty-five countries: A new index of institutional quality.
Central Bank of India, 2012.

MODENESI, André de Melo. Regimes monetários: teoria e a experiência do real. Editora Manole Ltda, 2005.

OLIVEIRA, Guilherme. PL de autonomia do Banco Central avança e é primeiro sobre o tema a ir a Plenário. Agência Senado, 21/02/2020.

PELLEGRINI, Josué A. "Autonomia do banco central." Consultoria Legislativa do Senado Federal. Texto (2004)
                        

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Síntese Neoclássica e o espaço da política fiscal

DAVID RIBEIRO FERREIRA JUCINEIDE HENRIQUE SANTOS MARCOS REVEJES PEDROSO MIQUÉIAS ARAÚJO RODRIGO COLOMBO DE OLIVEIRA Texto escrito em 29/04/2020  como Resenha do texto "O espaço da política fiscal: de Keynes ao Novo Consenso", escrito por Francisco Luiz C. Lopreato. O trabalho foi realizado na disciplina CE863: Setor Público, componente da grade curricular do curso de Ciências Econômicas do IE-UNICAMP. A mesma foi ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Alexandre Zanchetta Borghi. Introdução e Contextualização A Sínte se Neo clássica é um movimento acadêmico dos anos 1950-60 na economia do pós-guerra, que procurou absorver o pensamento de John Maynard Keynes e complementá-lo com a visão neoclássica. O processo de construção da Síntese começou logo após a publicação do livro “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de Keynes. Foi desenvolvida principalmente por John Hicks e popularizada pelo economista matemático Paul Samuelson.  O termo “síntese neoclássica” batizado por Paul S

Medidas de combate ao Coronavírus e a importância da ação estatal

Texto escrito em 30/05/2020 como Trabalho Final da disciplina CE863: Setor Público componente da grade curricular do curso de Ciências Econômicas do IE-UNICAMP. A disciplina foi ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Alexandre Zanchetta Borghi. MARCOS REVEJES PEDROSO 1. As três principais funções do Estado      Segundo MUSGRAVE & MUSGRAVE (1980), é notório de que o sistema de mercado não é capaz de desempenhar sozinho todas as funções econômicas. A atuação do governo é necessária para guiar, corrigir e suplementar o mecanismo de mercado em diversos aspectos. Tendo em mente que o mercado é imperfeito, o tamanho apropriado do setor público é, de fato, uma questão técnica e não ideológica. O autor segue sua visão, elucidando as três principais funções estatais: alocativa, distributiva e estabilizadora.      A função alocativa é expressa no fornecimento de bens públicos, ou do processo pelo qual a totalidade dos recursos é dividida para utilização no setor público e no privado, e pelo qual

As altas taxas de juros de curto prazo no Brasil e o pós Crise Financeira Global

MARCOS REVEJES PEDROSO Texto escrito em 19/04/2019 como projeto de Iniciação Científica orientadado pela Prof. Dra. Ana Rosa Ribeiro de Mendonça do IE-UNICAMP e apresentado ao CNPq com o tema: " Taxas de juros e nível de atividades: um estudo das elevadas taxas de juros de curto prazo no Brasil e seu movimento no pós Crise Financeira Global". 1. RESUMO      Este texto visa evidenciar a complexidade da questão da taxa de juros de curto prazo no Brasil. Seguindo esta linha busca-se avançar na compreensão da peculiaridade histórica de altas taxas de juros brasileiras e de sua relação com as oscilações no nível de atividade econômica na Crise Financeira Global (CFG), suscitando a centralidade da política monetária na busca pela estabilidade de preços.  INTRODUÇÃO      A taxa nominal de juros vigente sobre o sistema monetário - taxa over Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) - no Brasil tem se mostrado historicamente alta. Uma pesquisa feita pela Infinity Asset Managem